quarta-feira, 2 de julho de 2014

Medos

Há umas semanas faleceu a avó da minha colega de casa. A minha colega de casa é de longe, os pais estão emigrados, e por isso ela passa, por vezes, meses sem ver a família.

Há umas semanas faleceu a avó da minha colega de casa e ela, naturalmente, ficou devastada, uma miséria, um caco. Isto das mortes é um assunto complicado, especialmente se for alguém que nos é próximo, alguém da nossa família que vive num cantinho do nosso coração.

Eu fui criada com os meus avós maternos. Os meus avós, os maternos, são tudo para mim. Sou neta única e, portanto, sempre fui muito mimada, a princesa dos olhos deles, a alegria do seu viver. Não me achem convencida, isto são eles mesmos que dizem. Estar com os meus avós é sinónimo de felicdade, de sorriso estampado no rosto, de comida boa e quentinha, de mimos infindáveis e alegrias incontáveis, de Natais em família, de Ovos Kinder na Páscoa e de uma nota no meu aniversário.

Por isso custa-me quando venho embora todas as semanas. Eles não caminham para novos e são várias as doenças de que padecem, apesar de ainda serem relativamente novos para terem uma neta de 21 anos. Mas mesmo assim, tenho medo. Tenho sempre medo, muito medo, todos os dias medo.

A vida dá muitas voltas, num segundo está tudo bem, no outro o nosso mundo desmorona e tudo dá para o torto. Falo por experiência, uma dia conto-vos sobre isso.

Por isso, e repito, tenho medo. Tenho sempre medo de vir embora e ser a última vez que os vejo, que lhes toco, que lhes dou um beijo e digo "até sexta", porque pode não ser. A vida muda num instante, e eu tenho bem noção disso.

Vivo com este pânico que só eu compreendo e por vezes me decide assolar à noite, quando estou sozinha. A nossa mente é tramada, põe-nos a pensar naquilo que não devemos a horas indecentes. E isto não se aplica só aos meus avós. Aplica-se a todos, especialmente a eles e à minha mãe, que também tem uma saúde frágil e já me pregou o maior susto da minha vida.

Esta luta interior por vezes cansa. O querer saber que está sempre tudo bem não mata, mas vai esfolando aos pouquinhos e consumindo lentamente.

Até que chega o dia de voltar e temos mais uns dias de repouso desta loucura que é a vida longe da família.

3 comentários:

  1. Quando esse pânico te assaltar pensa no quão bom é tê-los. Só nas coisas boas!

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  2. Eu perdi os meus quando tinha 15 anos. Custa sempre !!!

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  3. A experiência indireta da morte é algo de natural, nas o ser humano não tem a racionalidade suficiente para assim a entender... Perdas, são sempre vazios...

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